No Dia Mundial da Alfabetização, vale refletir de forma mais profunda o que é o analfabetismo em nosso país
O Dia Mundial da Alfabetização, instituído em 8 de setembro, foi criado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), ganhando a sua primeira comemoração oficial em 1967, mais de 50 anos atrás.
A data foi estabelecida para que discussões sobre a alfabetização de crianças e adultos ganhassem destaque global, já que na época essa não era uma pauta priorizada, principalmente em países com altos índices de analfabetismo.
Atualmente, países menos desenvolvidos continuam ocupando a base da pirâmide quando o assunto é alfabetização. Enquanto países europeus como Polônia e Croácia têm 99% da população adulta alfabetizada, países do continente africano, como Níger e Serra Leoa, têm menos da metade da população adulta alfabetizada, com 47,7% e 37,34%, respectivamente.
Analfabetismo no Brasil
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022 o índice de analfabetismo no Brasil caiu para 5,6%, uma melhora de 5 pontos percentuais quando comparado com a pesquisa anterior, realizada em 2019, onde o índice de pessoas de 15 anos ou mais que não sabiam ler e escrever era de 6,1%.
A queda da taxa é uma vitória, mas o assunto é muito mais profundo do que parece e alguns recortes precisam ser destacados.
Ainda por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2022 do IBGE, dos 9,6 milhões de pessoas analfabetas no Brasil, 5,3 milhões viviam na região nordeste, ou seja, mais da metade existente em todo o país. O analfabetismo também está concentrado em grupos populacionais mais velhos. Eram 5,2 milhões de pessoas analfabetas com mais de 60 anos.
No recorte racial, a diferença é ainda mais escancarada. Enquanto 3,4% das pessoas brancas com 15 ou mais eram analfabetas, o número sobe para 7,4% quando nos referimos às pessoas pretas ou pardas.
Não obstante, será que não ser um analfabeto é o suficiente para estar inserido intelectualmente na sociedade?
Analfabetismo funcional
Entende-se por analfabeto funcional a pessoa que, apesar de reconhecer letras e números, não consegue compreender textos simples ou realizar operações matemáticas mais complexas.
O Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) classificou que 22% da população brasileira em 2018 estava no nível rudimentar, o que significa que apesar de não serem analfabetas, essas pessoas conseguem compreender apenas textos mais simples e literais, assim como trabalhar operações matemáticas de pouca complexidade.
Na mesma pesquisa, 12% da população brasileira entre 15 e 64 anos foi classificada no nível proficiente. Desses, 50% haviam alcançado o ensino superior, mas apenas 10% tinham 50 anos ou mais.
Para o que (ou quem) o Brasil precisa olhar?
Com todos os dados apresentados, é possível tirar algumas conclusões:
- O Brasil têm evoluído nos índices de alfabetização e os resultados são melhores quando relacionados à população jovem;
- Pessoas mais velhas, pretas ou pardas estão nos grupos menos alfabetizados;
- O analfabetismo funcional ainda é um grande problema no país;
- O ensino escolar pode não ser suficiente para a formação de pessoas completamente alfabetizadas.
As falhas no sistema educacional, existentes até hoje, são o ponto de partida para a construção de uma sociedade plenamente alfabetizada, e por isso, a cobrança e priorização de uma educação de qualidade é tão importante.
Entretanto, as desigualdades sociais podem limitar o acesso à educação regular, e cabe então à sociedade não só vigiar, mas também contribuir ativamente para que qualquer espaço possa ser um espaço de aprendizagem. E mais, que qualquer espaço possa de fato contribuir para a formação de um cidadão crítico, com habilidades de interpretação e elaboração de seus pensamentos, desejos e crenças.
PiPA de mãos dadas com a causa
O PiPA não poderia deixar de fazer parte dessa causa. Com o projeto Educaviva, que oferece reforço escolar de português e matemática para crianças do ensino fundamental, conseguimos fazer com que alunos com dificuldade de aprendizagem, acompanhem suas turmas na escola.
O reforço, além de ensinar a ler ou calcular, contribui para que as crianças não fiquem ociosas pelas ruas e, acima de tudo, lhes apresenta e incentiva a possibilidade de um futuro melhor por meio da educação.
Referências
Alves, Tatiana. Taxa de analfabetismo cai no Brasil e passa de 6,1% para 5,6%, Agência Brasil. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/educacao/audio/2023-06/taxa-de-analfabetismo-cai-no-brasil-e-passa-de-61-para-56#:~:text=Publicado%20em%2007%2F06%2F2023,n%C3%A3o%20sabem%20ler%20nem%20escrever. Acesso em 05 de setembro de 2023.
Croácia: Taxa de alfabetização, The Global Economy. Disponível em: https://pt.theglobaleconomy.com/Croatia/Literacy_rate/. Acesso em 05 de setembro de 2023.
Dias, Pâmela. IBGE: Analfabetismo cai entre 2019 e 2022, mas taxa continua mais alta entre negros, idosos e nordestinos, O Globo. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/educacao/noticia/2023/06/ibge-analfabetismo-cai-em-2022-mas-taxa-continua-mais-alta-entre-negros-idosos-e-nordestinos.ghtml. Acesso em 06 de setembro de 2023.
Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf). Disponível em: https://alfabetismofuncional.org.br/. Acesso em 06 de setembro de 2023.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Educação 2022 / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/educacao/17270-pnad-continua.html?edicao=36982&t=publicacoes. Acesso em 06 de setembro de 2023.
Níger: Taxa de alfabetização, The Global Economy. Disponível em: https://pt.theglobaleconomy.com/Niger/Literacy_rate/. Acesso em 05 de setembro de 2023.
PEREZ, Luana Castro Alves. “Analfabetismo funcional”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/analfabetismo-funcional.htm. Acesso em 06 de setembro de 2023.
Polônia: Taxa de alfabetização, The Global Economy. Disponível em: https://pt.theglobaleconomy.com/Poland/Literacy_rate/. Acesso em 05 de setembro de 2023.
Serra Leoa: Taxa de alfabetização, The Global Economy. Disponível em: https://pt.theglobaleconomy.com/Sierra-Leone/literacy_rate/. Acesso em 05 de setembro de 2023.